terça-feira, 17 de maio de 2011

UMA TRISTE SORTE




Era uma vez alguns fósforos fechados numa caixa, os quais, talvez por se encontrarem tão juntos e por terem um bom coração, eram imensamente amigos uns dos outros.
Quando se abria a caixa, lá estavam eles sempre unidos, todos com a cabeça para o mesmo lado e os pés para o outro.
Cabeças encostadas umas às outras, numa grande ternura.
Dentro dessa caixa reinava a amizade mais desinreressada, mais pura.
E este afecto manifestava-se todas as vezes que o dono da casa abria a caixa para retirar um fósforo.
Os outros sofriam por ver partir para sempre o companheiro dos dias e das noites, e choravam copiosamente.
Uma vez, um dos fósforos regressou à caixa.
E isto porque o dono não precisou dele e meteu-o outra vez junto dos outros.
Ele contou coisas horrorosas que tinha visto com alguns pobres fósforos.
Viu o dono a pegar num deles e a esfregar com a cabeça numa parte escura da caixa.
O fósforo morreu ardendo lentamente, enquanto que o bárbaro patrão se servia do lume para iluminar a escada por onde subia.
Viu ainda outro fósforo a servir para o patrão acender o cachimbo.
Com a sua chama a tremer parecia suplicar que tivessem pena dele e não lhe dessem uma morte tão dolorosa.
Estas e outras histórias serviam para que os fósforos da caixa se encostassem ainda mais uns aos outros.
Entretanto, o dono ia retirando, impiedosamente, um fósforo atrás de outro.
Passado pouco tempo, restavam apenas dois pobres fósforos.
Podeis imaginar a desolação destes dois que se amavam tanto e estavam sós, abandonados e à espera do momento fatal da partida sem regresso.
E para que nenhum deles ficasse sózinho decidiram morrer juntos.
E assim aconteceu.
Um dia, apenas sentiram mexer na caixa, abraçaram-se com tanta força que o patrão, sem os conseguir separar, pegou neles e acendeu-os assim juntos, dando-lhes uma única morte.
E assim foram ardendo estes dois fósforos e os seus corações, eles que tanto se amaram quer na vida quer na morte.
Era o que algum tempo atrás acontecia, hoje práticamente já não se usa um fósforo...

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